Passagem aérea no Brasil atinge o maior nível em mais de uma década
O preço médio das passagens aéreas domésticas entre janeiro e março deste ano foi o maior em um primeiro trimestre em mais de uma década: R$ 592,95 (aproximadamente US$ 110). Esses dados são os mais atualizados de uma pesquisa realizada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Segundo a ANAC, esse valor é o maior desde o primeiro trimestre de 2010, quando o preço médio foi de R$ 629,16, corrigido pela inflação.
Na comparação anual, 2022 já entrou na série histórica da agência como o ano com as passagens aéreas mais caras em muito tempo.
“Desde pelo menos 2019, as companhias aéreas vêm elevando os preços das passagens acima da inflação. Isso indica que as empresas estão aumentando os preços mais do que a capacidade de renda da população, que tem enfrentado maior dificuldade para comprar as passagens”, diz o economista Alexandre Jorge Chaia, do Insper.
Mas por que viajar de avião está cada vez mais caro no Brasil?
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil apontam que o preço das passagens tem subido devido a uma combinação de fatores, como a pandemia de COVID-19, a valorização do dólar nos últimos anos e o aumento do custo do combustível de aeronaves.
O setor afirma estar em crise e está tentando se reestruturar.
Enquanto isso, o governo federal estuda lançar um programa de venda de passagens a preços acessíveis, junto com outras medidas para tentar reduzir o custo das passagens.
Além disso, além dos preços das passagens, as viagens aéreas ficaram mais caras porque muitos consumidores agora têm que arcar com cobranças extras, como taxas de bagagem, que estão em vigor desde 2017 e se tornaram uma fonte significativa de receita para as companhias aéreas.
O crescimento das viagens aéreas no Brasil
Até o início dos anos 2000, os preços das passagens aéreas eram regulados pelo governo federal. Os controles de preços criaram ineficiências, reduziram o investimento da empresa e a disponibilidade de voos e mantiveram os preços das passagens altos.
Desde 2001, as companhias aéreas têm a liberdade de determinar as tarifas cobradas nas rotas domésticas.
A competição ganhou força em 2005 com a criação da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), que estimulou os investimentos e a expansão da indústria, levando ao aumento das rotas aéreas, mais opções de voos e maior número de voos.
Essa expansão reduziu significativamente os preços das passagens, segundo analistas, resultando em um maior número de brasileiros viajando de avião.
O impacto dessa mudança pode ser medido pelo Revenue Passenger-Kilometers (RPK), que representa a demanda por voos. É calculado multiplicando o número de passageiros pagantes pela distância percorrida.
Em 2000, o índice RPK era de 25,2 bilhões de quilômetros. Uma década depois, quando o avião se tornou oficialmente o meio de transporte de longa distância mais popular para os brasileiros em vez de ônibus, havia aumentado para 69,8 bilhões de quilômetros.
O RPK continuou a crescer na década seguinte, até que experimentou um declínio acentuado durante a pandemia de COVID-19 devido a restrições de viagens.
Em 2019, ano imediatamente anterior à pandemia, chegou a 96,4 bilhões de quilômetros. No ano seguinte, caiu para quase a metade: 49,5 bilhões de quilômetros.
As viagens aéreas domésticas vêm se recuperando gradualmente desde então. Em 2022, o RPK subiu para 89,3 bilhões de quilômetros.
Segundo a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), que representa as empresas do setor, o índice do ano passado correspondeu a 86,5% do patamar registrado em 2019.
Essa recuperação foi melhor em comparação com as viagens internacionais, que atualmente estão em 64,7% do nível anterior à pandemia, conforme relatado pela Abear.
Apesar da melhora recente, a Abear avalia que as companhias aéreas brasileiras ainda enfrentam uma situação desafiadora.
A associação estima que as empresas tiveram um prejuízo de R$ 46,39 bilhões (US$ 8,6 bilhões), acumulado de 2016 até o terceiro trimestre do ano passado.
Como resultado, uma das consequências para os consumidores tem sido o aumento do custo das passagens aéreas.